4º Domingo da Quaresma / 2023
Reflexão da Liturgia Dominical.
A
liturgia do 4º Domingo da Quaresma apresenta a imagem da luz (Ef 5,8-9; Jo
9,5). Celebramos a alegria em meio à penitência: “Alegra-te, Jerusalém!
Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos
com a abundância de suas consolações”, é o convite da antífona de entrada da
Missa, citando Isaías 66,10-11. Por que a alegria? Porque o nosso coração
exulta diante da certeza da salvação que vem de Deus: ele é a luz que ilumina
as trevas de nossa vida.
João 9,
1-41 narra a cena da cura do cego de nascença. É o sexto sinal nesse Evangelho.
A função dos sinais é revelar a pessoa de Jesus. Aqui ele é apresentado como a
luz. Após às suas ações – cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a
sobre os seus olhos, e obediente ao seu pedido de lavar-se na piscina de Siloé,
o cego fez a experiência da cegueira à visão, da opressão à liberdade, da
incredulidade à fé. Reconheceu Jesus como homem, como servo de Deus, como
profeta, como Filho do Homem e como Senhor.
Jesus é a
luz (Jo 1,8-9; 8,12; 9,5; 12,35-36) e nós o acolhemos na fé. Ele é a luz que
faz brilhar os olhos da fé. Ele é o servo de Deus que nos ajuda a descer em
nossa própria humanidade, ao mais profundo de nós mesmos e ver as coisas com
outros olhos.
Em
continuidade com o 3º Domingo da Quaresma, temos aqui uma catequese batismal.
Lá com o símbolo da água, aqui, a luz. A cura do cego de nascença é uma
indicação do sacramento do Batismo. Jesus é revelado como a luz que liberta das
trevas e comunica o amor, a verdade e a salvação, um novo nascimento pela água
e pelo Espírito. O nascimento humano é fruto do amor carnal de um homem e uma
mulher. O nascimento novo é obra de Deus, é graça do Espírito Santo
A
Quaresma nos convida à conversão, a uma mudança de mente e coração, uma volta
para Deus. No Batismo recebemos o dom da fé e do Espírito Santo. Somos
marcados por sua presença e sua unção. Esta é a base teológica do sacramento.
Mas isto não basta. A experiência teológica deve se transformar em experiência
pessoal, quando passamos das trevas à luz, do pecado à graça. Somos chamados a
assumir a nossa condição de consagrados e a viver a nossa inserção no Corpo
místico de Cristo. Quem segue Jesus pratica a verdade, tem a vida, é filho da
luz.
Num dos ritos
complementares do Batismo de crianças, quem preside apresenta o círio pascal e
diz: “Recebam a luz de Cristo”. O pai, ou o padrinho, recebe uma vela apagada e
acende-a na círio pascal, enquanto o presidente da celebração continua:
“Queridas crianças, vocês foram iluminadas por Cristo para se tornarem luz do
mundo. Com a ajuda de seus pais e padrinhos caminhem como filhos e filhas da
luz”.
“Vós sois
a luz do mundo”, nos diz Jesus... e a “vossa luz deve brilhar diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está
nos céus” (Mt 5,14.16). Na sequência da exortação de Jesus, Paulo nos diz:
“Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz”.
A nossa missão de “filhos da luz” é produzir frutos de bondade, justiça e
verdade (Ef 5,8-14). Ainda mais: “Fazei tudo sem murmurar nem comentar, para
que sejais irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem defeito, no meio de
uma geração perversa e corrupta, na qual brilhais como luzeiros no mundo” (Fl 2,14-15);
“Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite nem das
trevas” (1 Ts 5,5).
Devemos
viver como filhos e filhas de Deus e fazer o que lhe agrada, que é uma vida de
santidade. Pela força e pela graça do Espírito Santo acolhemos e vivemos essa
missão, na sua unção e na alegria espiritual.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.