Ceia do Senhor

Fazemos memória deste presente que Jesus nos deixou antes de ir para o Pai. Somos chamados a meditar e a contemplar o mistério eucarístico e voltar em espírito ao Cenáculo: ali é a nossa casa. Artigo de D. Paulo Beloto.

O Papa Bento XVI escreveu uma Exortação Apostólica em 2007, chamada “Sacramento da Caridade”, sobre a Eucaristia, doação que Jesus Cristo faz de si mesmo, revelando-nos o amor de Deus por nós. Na Missa Cristo faz-se alimento de verdade para nós, é a verdade do amor, que é a própria essência de Deus.

O documento trata da Eucaristia como mistério acreditado. A fé da Igreja é essencialmente fé eucarística, tendo como primeiro conteúdo o próprio mistério de Deus. É toda a vida divina trinitária que nos alcança e se comunica a nós na forma do sacramento.

Na Eucaristia Jesus é o verdadeiro Cordeiro pascal imolado, que se ofereceu espontaneamente a si mesmo em sacrifício por nós, realizando assim a nova e eterna aliança. Ele institui o sacramento da Eucaristia, antecipando o sacrifício da cruz e a vitória da ressurreição. A sua morte é um ato supremo de amor e libertação definitiva da humanidade do mal.

Cristo continua presente e ativo na sua Igreja, a partir do seu encontro vital que é a Eucaristia, em virtude da ação do Espírito Santo. É Ele que transforma o pão em Corpo de Cristo e o vinho em sangue de Cristo. É o mesmo Espírito que reúne os fiéis num só corpo, tornando-os uma oferta espiritual agradável ao Pai.

A Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia. A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente neste sacramento porque o próprio Cristo se deu primeiro a ela no sacrifício da cruz. A Eucaristia é constitutiva do ser e do agir da Igreja. Todos os sacramentos estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam, pois na Santíssima Eucaristia está contido o tesouro espiritual da Igreja, o próprio Cristo.

A Eucaristia é mistério celebrado: há uma relação entre fé eucarística e celebração. É necessário viver a Eucaristia como mistério da fé autenticamente celebrado. A fonte de nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo fez de si próprio no mistério pascal.

A Eucaristia é mistério vivido, pois há uma ligação entre a realidade eucarística e a vida cristã. O mistério acreditado e celebrado possui em si mesmo um dinamismo que faz dele princípio de vida nova em nós e forma da existência cristã. Quando comungamos o corpo e o sangue de Cristo tornamo-nos participantes da vida divina. Somos mudados pelo mistério eucarístico. A celebração eucarística é fonte e ápice da existência eclesial, com a marca do serviço fraterno, como aprendemos na cena do lava-pés.

A Eucaristia é mistério anunciado. O amor que celebramos deve ser comunicado. A Eucaristia é fonte e ápice da vida da Igreja e a sua missão. Uma Igreja eucarística é uma igreja missionária.

É necessário que a Eucaristia seja verdadeiramente acreditada, devotamente celebrada e intensamente vivida e anunciada.

A Quinta-feira Santa dá início ao Tríduo Pascal, o “Sacratíssimo Tríduo do crucificado, sepultado e ressuscitado” (Santo Agostinho), ponto culminante do Ano Litúrgico. Fazemos memória deste presente que Jesus nos deixou antes de ir para o Pai. Somos chamados a meditar e a contemplar o mistério eucarístico e voltar em espírito ao Cenáculo: ali é a nossa casa.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.