Servir ao próximo: como viver o lava-pés?
Artigo de Paulo Ricardo Rabelo dos Santos , seminarista diocesano
Irmãos
e irmãs, na celebração do lava-pés, onde estão reunidos Jesus e os discípulos
para a Última Ceia, traz alguns aspectos que nos auxiliam a uma maior
compreensão para vivência na prática.
Vemos
que o próprio Evangelho relata o amor de Jesus que antecede esse gesto, “tendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo,13,10). Sobre
isso descreve Santo Afonso Maria de Ligório, que é um “amor supremo e sem
limites” (p.41), ou seja, o desejo do coração de Jesus era contrário ao de
Judas, incompreendido pelos discípulos que na voz de Pedro os representa. Jesus
observando as inclinações que os discípulos tinham para as coisas da terra,
aquelas na qual os sentidos se atraem, se inclina até aos pés, com a finalidade
de purificar o mais ínfimo, como relata Santo Tomás de Aquino, fazendo alusão
as realidades da alma “sendo a cabeça correspondente a razão que busca a Deus;
as mãos, as ações que são realizadas; e os pés, aos sentidos, desejos e
sensações” (p.226). Os discípulos buscavam a Deus, realizavam boas obras, mas
ainda, necessitavam de ter os desejos e sensações purificadas.
“Se
eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,9), ressalta o amor de
Jesus que visa uma purificação perfeita, se consolidando na atitude do Mestre
que se põe de pé para servir, com o serviço que O coloca abaixo de todos. Dessa
forma, Jesus realiza nesse gesto de amor a concretude da humildade, deixando
como ensinamento a palavra e o exemplo, para que seja mais do que apenas um
rito celebrado anualmente, mas sim, um serviço mútuo realizado na realidade na
qual estamos inseridos. No entanto, Jesus com esse exemplo nos “constrange”,
porque impelidos de fazer a mesma coisa, através de um simples gesto (se
comparado com a morte de Cruz), vem ao encontro do nosso duro e complexo
coração, pois vai além de um ‘eu te amo’ dito sem profundidade, é um amor
concreto que penetra as imperfeições profundas do outro, amando-o verdadeiramente.
Dessa
forma, nós que nos preparamos durante esse tempo quaresmal justamente para o
tríduo pascal, precisamos tornar concreta atual e real essa atitude de Jesus em
nossa vida, de que forma? Amando, perdoando, reconciliando, servindo, acolhendo
os que estão em nossa volta, sejam os familiares, amigos, colegas de trabalho,
enfim. Sabendo de nossa fraqueza, e que essa celebração do lava-pés é realizada
junto a instituição do Sacerdócio e da Santíssima Eucaristia, peçamos a Nossa
Senhora (Aquela que glorificou o Senhor em sua alma, sendo a Serva do Senhor),
a graça de sermos purificados diante do Sacerdote que é “o coração de Jesus”, e
nos alimentarmos com a força do Sacramento Eucarístico, para aprendermos amar e
servir nessa celebração de lava-pés.
Abençoado
Tríduo Pascal à todos.
BIBLIOGRAFIA
AQUINO,
S, T. Meditações para a Quaresma. Org. Pe. Denys Mézard, O. P. Campinas
– SP. Ecclesiae. 1ª edição. janeiro de 2007. 247 p.
BÍBLIA
de Jerusalém. Antigo e Novo Testamento. Tradução publicada sob a direção da
“École biblique de Jerusalem”. São Paulo: Editora Paulus, 12ª reimpressão,
2017.
LIGÓRIO,
S, A. A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dois Irmãos – RS: Minha
Biblioteca Católica. 2023, 407 p.