Paixão do Senhor
Acolhendo a Palavra proclamada, venerando a cruz, rezando por toda a humanidade e comungando o Cristo eucarístico, jamais nos esquecemos do nosso valor, que custou a morte do Senhor e o oferecimento de sua vida em favor dos nossos pecados. (Dom Paulo R. Beloto)
A Igreja deixa de celebrar no dia de hoje os sacramentos, para dar
atenção a um fato histórico essencial para a nossa fé, que é a morte de Jesus
Cristo na cruz, acontecimento que “faz parte do mistério do projeto de Deus”
(CIgC, 599), o mistério da nossa redenção. Jesus é o Cordeiro de Deus, aquele
que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), somos resgatados pelo seu precioso
sangue (1 Pd 1,19). O Pai entregou seu Filho por nós, libertando-nos “do poder
das trevas, transferindo-nos para o reino do seu Filho amado” (Cl 1,13). Somos
“justificados gratuitamente, pela graça de Deus, por meio da redenção em Cristo
Jesus” (Rm 3,24). “A prova que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando
éramos ainda pecadores” (Rm 5,8). Sem a realidade desse fato a nossa fé seria
vazia.
Na cerimônia de hoje acolhemos a Palavra proclamada.
Isaías 52,13-53,12 descreve o caminho do servo fiel, justo e inocente,
desfigurado, sem beleza, desprezado, coberto de dores, cheio de sofrimento,
macerado, atormentado, chagado, maltratado, golpeado, condenado. Ele ofereceu
sua vida em expiação, carregou as nossas culpas, sua morte é vida para nós,
pecadores.
O Salmo 30 reza a confiança do inocente, que diante do sofrimento,
coloca sua vida nas mãos de Deus, sua única defesa e salvação.
O autor da Carta aos Hebreus (Hb 4,14-16;5,7-9) apresenta Jesus como
sumo sacerdote que se compadece de nós, único mediador entre Deus e a
humanidade. Ele é o autor da nossa salvação eterna.
A narrativa da paixão em João 18,1-19,42 apresenta Jesus realizando
plenamente o plano de Deus, em favor da humanidade, carregando os nossos
pecados e toda a miséria do mundo. Na cruz, ele cumpriu a vontade do Pai,
amando-nos até o fim. Pela cruz, que é sinônimo de fraqueza, carência de poder,
impotência e despojamento, ele nos libertou. Sua única força e confiança foi
Deus (2Cor 13,4).
A Igreja intercede pela salvação do mundo: toda a humanidade é trazida
na oração universal aos pés da cruz, na qual Cristo morre.
Adoramos a pessoa de Cristo crucificado. A cruz é consequência do seu
amor. Não há religião cristã verdadeira sem o caminho da cruz. Ela é o centro
da vida missionária, o caminho da verdadeira liberdade, o poder de Deus, o
caminho do Espírito e da ressurreição. “Escândalo para os judeus e loucura para
os gentios”, a Igreja prega o Cristo crucificado, poder e sabedoria de Deus (1
Cor 1,23.24). “Fora da cruz não existe outra escada por onde subir ao céu”
(Santa Rosa de Lima).
Fazemos com Jesus um só corpo, comungamos os seus sentimentos e a vida
que ressurge.
Acolhendo a Palavra proclamada, venerando a cruz, rezando por toda a
humanidade e comungando o Cristo eucarístico, jamais nos esquecemos do nosso
valor, que custou a morte do Senhor e o oferecimento de sua vida em favor dos
nossos pecados.
Como Cristo que é solidário conosco, devemos também ser solidários com
os nossos irmãos e irmãs. Nossa vida está nas mãos de Deus. Ele é a nossa
esperança.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.