A Torre de Babel e o Pentecostes

O Espírito é um dom e um compromisso: um dom do Ressuscitado que compromete os discípulos na missão.

A discórdia e a divisão, como a que ocorreu em Babel (cf. Gn 11, 1-9), onde já não se entendiam, são o sinal da ausência do Espírito. Mesmo no contexto da nossa vida cristã, quem sabe, nos encontramos em uma situação de falta de comunhão e desarmonia. Normalmente a origem da divisão entre nós é o orgulho, a pretensão de parecer melhor que os outros. Outras vezes ainda, corremos atrás de gratificações que não existem, na verdade são chamadas de vaidade, coisas vazias e inconsistentes. Quando afirmamos ser o primeiro ou o melhor, o outro se torna um adversário a ser derrotado. A discórdia, torna nosso coração ousado, cega nossa visão, nos impede de ver quem está à nossa frente, queremos apenas eliminar os outros na ilusão de que assim finalmente teremos o nosso merecido espaço. 

Paradoxalmente, embora esta seja a condição ordinária do coração humano, todos nos apressamos a reconhecer que não gostaríamos de viver divididos, mas afirmamos que desejamos viver na harmonia e em paz com todos. O texto dos Atos dos Apóstolos chama a atenção para aquelas condições que nos permitem acolher a comunhão como sinal do Espírito. Em primeiro lugar, nos é dito que os discípulos estavam num mesmo lugar (cf. Act 2, 1): não estão dispersos. Eles não se defendem e não se dividem. Permanecer no mesmo lugar significa deixar de guerrear uns contra os outros, viver unidos e em comunhão. 

O sinal de comunhão é o sucesso da comunicação: falamos a mesma língua, ou seja, conseguimos nos entender, porque temos no coração o mesmo desejo. Quando a comunhão é quebrada, não nos entendemos mais e nos tornamos estranhos uns para com os outros. Se pensarmos bem, o que quebra a comunhão é tudo aquilo que não vem do Espírito: já não conseguimos compreender-nos quando cada um procura apenas as suas próprias razões, quando tentamos enganar o outro, quando nos escondemos atrás de nossos preconceitos.

A capacidade de perdoar é fruto do Espírito e a forma mais alta do amor é o perdão. Se não perdoamos, guardamos conosco a maldade, o ressentimento, a raiva e a mágoa. A experiência do perdão é uma libertação não só para quem é perdoado, mas também para quem perdoa. Será que no dia-a-dia consigo reconhecer a ação do Espírito Santo em mim e ao meu redor? Fruto do Espírito, o perdão, é um evento escatológico e não ético. 

É possível constatar, portanto, que o dinamismo humano do perdão é longo e cansativo e por isso, se faz necessário a graça do Espírito, que com a sua ação e sua presença discreta, eficaz e surpreendente, invade todos os aspectos da vida dos fiéis em Cristo e da Igreja e transforma os corações. O Ressuscitado mostra aos discípulos as chagas das mãos e do lado e concede a eles a paz, e o perdão. Os discípulos, paralisados pelo medo e ao mesmo tempo, imobilizados e fechados no Cenáculo são movidos e impulsionados pelo Espírito Santo que é um vento impetuoso e um fogo abrasador. O Espírito é dom e promessa: ambos ao mesmo tempo. Como dom, verifica-se na vida do fiel e da Igreja nos frutos da caridade, da paz, da benevolência, da paciência, da mansidão; como promessa abre o futuro e desperta a esperança. O Espírito é um dom e um compromisso: um dom do Ressuscitado que compromete os discípulos na missão. 

(Fonte: Portal Cerco il Tuo Volto, Pe. Gaetano Piccolo, SIM, Pe. Jesús GARCÍA Manuel). 

Contribuição: Pe Mário Reis Trombetta, Paróquia Cristo Rei, Orlândia/SP.