Os milagres que não vejo

Téo Lopes de Andrade

Há poucos anos, tiramos uma foto aqui em casa, com toda a família reunida. Estou eu na foto, Téo, com minha esposa, a Con, e nossos oito filhos. Alguns no sofá, outros no chão (porque não cabia todo mundo no sofá). Trata-se de uma das poucas fotos que temos de todo mundo junto, pois é muito difícil reunir todas as crianças e fazê-las olhar para a câmera ao mesmo tempo! Em uma família numerosa, uma simples seção de uma única foto pode se tornar uma aventura.

Bom, é isto o que se vê na imagem.

Mas hoje chego a conclusão que, o mais importante, o essencial, o que sustenta essa família, é o que não se vê.

Vejo a minha presença e a presença de minha esposa, mas aí está uma presença maior e mais íntima, uma presença total e infinita, oculta e mais real do que tudo o que se pode ver e tocar: a presença de Deus.

Começo a compreender então que sou um pai em busca de vivenciar o invisível.

Quando Deus formou a mulher, antes fez cair um profundo sono sobre Adão. Quando Adão viu Eva e exclamou, “essa sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne”, ela já estava pronta. Adão viu o resultado final, mas não viu a mulher sendo moldada, estava dormindo quando Deus aperfeiçoou ao máximo o que já havia feito, quando Ele decidiu que a obra prima da sua criação fosse perpetuada através do corpo da mulher e, assim, o tornou sagrado. Para criar uma pessoa, Deus toca o corpo feminino e introduz a alma no corpo do óvulo fecundado.

Ali, no segredo, no íntimo da mulher, no silêncio sagrado de seu útero, Deus realiza o milagre da vida. Eu, como bom filho de Adão, estive inconsciente enquanto minha felicidade estava sendo construída. Sou pai graças a esses milagres que não vi.

Então eu paro, olho, vejo e não vejo, e ver e não ver é a minha condição de pai.

E o que não vejo é mais importante do que aquilo que vejo.

Mas por que será que hoje, no dia dos Pais, resolvi falar das Mães? É porque, nesta minha busca pelo que não vejo, descobri a maior e mais bonita missão de um homem nesta vida. Somos chamados a ser cavalheiros, ajudar e proteger as mulheres. Fomos convocados por Deus para uma batalha. Lutar com todas as forças para que toda mulher possa dar à luz e exercer sua missão de ser mãe.

Enfim, como pai imperfeito que sou, vejo e não vejo. Sei que ainda existem muitas e muitas coisas para não ver. Sei que nosso Deus não dorme e nem repousa e que os milagres se sucedem, incansavelmente.

Olhando para esta foto da minha família, penso: que família bonita! E lá no íntimo do meu coração, onde o Espírito Santo por vezes sopra uma breve inspiração, escuto uma voz suave que me diz: “Você ainda não viu nada!”.

Téo Lopes de Andrade