25º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Reflexão da Liturgia Dominical
A graça de Deus não anula, mas aperfeiçoa a natureza humana. Há um
imenso horizonte de considerações dessas duas sublimes realidades – graça e
natureza, pensamento tão bem desenvolvido na tradição cristã, principalmente
pelos grandes teólogos Agostinho e Tomás de Aquino. A relação entre ambas é de
harmonia, reciprocidade e complementação, com vemos no ensinamento de Jesus no
Evangelho deste domingo.
“A graça é o auxílio que Deus nos concede para respondermos à nossa
vocação de nos tornar seus filhos adotivos. Ela nos introduz na intimidade da
vida trinitária” (CIgC, 2021). A graça é concedida pelo Pai e comunicada pelo
Verbo encarnado. É a sua vida em nós, o seu socorro que cura, restaura e
fortalece; é a revelação do seu amor, que nos é oferecido não por mérito
próprio, mas por pura bondade e benevolência, que nos ajuda no caminho da
santidade
Mas Deus quer a colaboração humana. Na liberdade, respondemos à ação
divina. A graça precisa ser acolhida. Podemos dizer que ela é um benefício que
Deus nos concede, pela força e unção do Espírito, para nos ajudar no caminho do
bem.
É próprio do ser humano querer acertar, pois há em seu coração um desejo
profundo de ser melhor. Mas precisa da luz de Deus para um discernimento
correto e seguro. Por isso, deve contar com a graça que vem de Deus: pela fé,
abrindo o seu coração para fazer sua vontade, corrigindo os passos equivocados,
seguindo a sua Palavra, buscando conselhos de quem é mais experiente,
praticando o amor, o perdão e a misericórdia. Se o ser humano querer prescindir
desse auxílio e caminhar só, com a sua inteligência e capacidades naturais, cai
na autossuficiência e comete os maiores equívocos.
Jesus Cristo é o Verbo Encarnado, autor da graça. Sua presença na
história humana, encarnação, morte e ressurreição são sinais do amor gratuito
de Deus. Na sua catequese, Ele ensina que a justiça de Deus não é mero
cumprimento da Lei e retribuição das obras, como pensavam os judeus. O seu amor
é gratuito.
A parábola contada pelo Mestre (Mt 20,1-16), ilustra o que Ele veio
revelar. Deus não nos salva ou nos ama segundo as nossas obras, mas por pura
misericórdia. Na estória o patrão trata todos os trabalhadores com igualdade e
decide pagar o mesmo, a começar pelos últimos.
Na justiça dos homens cada qual recebe pelo que produz: não há uma
preocupação com as necessidades de cada um. Na justiça do Reino não há
privilégios: as pessoas são vistas nas suas necessidades. O Pai acolhe a todos
com o mesmo amor gratuito, que não se compra e nem se comercializa, ninguém
merece mais do que o outro.
Em Mateus, Jesus se apresenta como o Mestre da justiça (Mt 3,15), que
veio fazer a vontade do Pai, que é amar. A nossa resposta vem da fé, de acolher
essa graça e vivê-la entre nós.
Isaías 55,6-9 faz um apelo à conversão, que significa deixar o caminho
do erro e buscar o Senhor, voltando à vida para Ele.
Paulo escreveu a carta aos Filipenses na prisão. No trecho da liturgia
(Fl 1,20-24.27) o apóstolo partilha que não teme a morte, mas por causa da
missão evangelizadora, considera necessário continuar vivo. O que importa é
proclamar o Evangelho, e que Cristo seja glorificado. Exorta os filipenses para
que vivam à altura do Evangelho e que permaneçam firmes em Cristo morto e
ressuscitado.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.