2º Domingo do Tempo Comum
"Com prazer faço a vossa vontade!" (Sl 39,9).
Estamos iniciando o que chamamos de Tempo Comum: liturgia ordinária celebrada durante o ano, que nos leva a caminhar com Jesus em sua vida pública. Ele é apresentado como o Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador. No Tempo Comum temos 34 semanas, em dois ciclos: o primeiro é interrompido com a Quaresma; após a festa de Pentecostes, iniciamos o segundo ciclo, até a festa de Cristo Rei. As leituras são distribuídas por três anos, cada um seguindo um Evangelho sinótico. Um aspecto que este tempo salienta é a congregação do povo de Deus: a assembleia se reúne no dia do Senhor para realizar as ações sagradas do culto cristão, para ouvir a Palavra e participar do seu sacrifício. O Domingo é o dia litúrgico por excelência, em que celebramos todo o mistério de Cristo e da Igreja. Nós vivemos conforme do dia do Senhor.
No ano B lemos o Evangelho de Marcos, uma espécie de catecismo de iniciação cristã, que revela a pessoa de Jesus e o que significa acreditar e seguir o seu caminho. Ele é o Messias, o Filho de Deus (Mc 1,1; 15,39) que veio anunciar o Reino como vontade do Pai. O 2º domingo do Tempo Comum, nos três anos litúrgicos, oferece passagens do Evangelho de João. A vocação é o tema central da Palavra de Deus.
1 Sm 3,3b-10.19: Apesar de ter sido consagrado ao Senhor e ter crescido no santuário de Silo, Samuel não compreendeu o seu chamado, que precisou repetir-se por três vezes. Foram necessários a intervenção e o discernimento do sacerdote Eli. Após discernir a voz de Deus, Samuel colocou-se a serviço: “Fala, que teu servo escuta” (1Sm 3,10).
João 1,35-42 narra a vocação dos primeiros discípulos. O texto inicia falando da missão de João Batista, que aponta para Jesus, o “Cordeiro de Deus”. Este título lembra duas imagens do Antigo Testamento: a do Servo Sofredor, descrita pelo profeta Isaías (Is 52,13-53,12), que se oferece como cordeiro para carregar os pecados do povo; e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel (Ex 12,1-28). Jesus é o servo que oferece a sua vida pela redenção da humanidade e o cordeiro imolado que tira o pecado do mundo. A imagem do Cordeiro aparece em outros escritos de João, como por exemplo, no livro do Apocalipse. Depois de escrever as cartas para as comunidades, João tem a visão de uma “porta aberta no céu”, e uma voz convidando-o a entrar para mostrar “as coisas que devem acontecer” (Ap 4,1). Entrando no céu, ele vê um trono e nele “alguém sentado” (4,2), com um livro na “mão direita”, “lacrado com sete selos” (5,1). É o livro que contém o roteiro da história. Ninguém é capaz de abrir este livro (5,3), por isso João chorava muito (5,4). Um ancião o consola, dizendo que o “leão da tribo de Judá, o rebento de Davi, venceu, para abrir o livro e seus sete selos” (5,5). João não vê nenhum leão nem rebento, mas um “Cordeiro, de pé, como que imolado” (5,6). O Cordeiro é Jesus, o único capaz de ler a nossa história e apagar os nossos pecados.
O testemunho de João despertou dois discípulos para seguir Jesus. Percebendo este seguimento, perguntou-lhes: “O que estais procurando”? (Jo 1,38). Ao ser interrogado pelos mesmos sobre seu lugar de morada, continuou: “Vinde ver” (Jo 1,39). Eles foram e permaneceram com ele naquele dia. André conduziu também o seu irmão Simão Pedro a Jesus.
O apóstolo Paulo apresenta as motivações para a pureza e a santidade da pessoa humana (1 Cor 6,13c-15ª.17-20): o corpo é para o Senhor, pois somos membros de Cristo; nosso corpo é santuário do Espírito, portanto, devemos glorificar a Deus com ele.
A vocação é um chamamento que exige uma resposta, é dom de Deus, que toma a iniciativa de chamar, atuando nas pessoas que respondem aos seus apelos. Deus é a fonte de toda vocação. É uma experiência pessoal: cada um é chamado a dar sua resposta. Deus chama diretamente, mas também pelas mediações, por isso, a vocação exige a presença de pessoas experientes que ajudam no discernimento. Eli ajudou Samuel a discernir e a compreender o chamado de Deus. A vocação dos primeiros discípulos brotou do testemunho de João Batista, da experiência de permanecer com Jesus e do encaminhamento de outros. Uma pessoa sozinha não é capaz de discernir a vontade de Deus. Ao longo da vivência de uma vocação é preciso que a mesma seja acompanhada e orientada por pessoas experientes. A vocação é fazer a vontade de Deus, é guardar a sua lei (Sl 39 (40), 9).
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.