Paixão do Senhor - Dom Paulo Roberto
Homilia da Paixão do Senhor
A morte redentora de Jesus
Cristo “faz parte do mistério do projeto de Deus” (CIgC, 599), que é o
mistério da nossa redenção. Somos resgatados “pelo sangue precioso de
Cristo” (1 Pd 1,19). Deus entregou seu Filho por nós (Rm 8,32), ele “nos
livrou do poder das trevas, transferindo-nos para o reino do seu filho
amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados” (Cl 1,13-14).
Jesus “morreu pelos nossos pecados” (At 3,18), é o “Cordeiro de Deus,
aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
Como Jesus tira o
pecado do mundo? Quando vamos ao médico, queremos que ele encontre o
remédio certo para curar a nossa doença. O pecado é a doença de nossa
alma, é a não aceitação da proposta da Deus, é agir contra Ele e
desviar-se do seu caminho, é recusar a comunhão de vida e de amor com
Deus e com os irmãos. O pecado tira a harmonia interior, afasta-nos de
Deus, fere o seu plano, gera desequilíbrio nas relações humanas. O
pecado nos afasta da graça santificante. Jesus é o médico que nos
oferece o remédio da misericórdia, do amor e do perdão que nos cura do
pecado. Ele não veio “chamar os justos, mas sim os pecadores” (Mt 9,13).
Todos nós pecamos - nos diz são Paulo - e estamos “privados da glória
de Deus” (Rm 3,23). Só podemos “ser justificados gratuitamente, pela
graça de Deus, em virtude da redenção no Cristo Jesus” (Rm 3,24). “A
prova que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda
pecadores” (Rm 5,8).
O caminho para a cura do pecado que o
Senhor encontrou foi a cruz. O Jesus dos evangelhos é o da cruz.
Anunciar um Jesus sem a cruz é procurar apoios terrestres, compensações e
consolo nos homens. Não há religião cristã verdadeira sem o caminho da
cruz. Ela é o poder de Deus e o caminho do Espírito. Pela cruz, que é
sinônimo de fraqueza, carência de poder e impotência, Jesus nos liberta.
A sua cruz é despojamento de toda força humana e confiança absoluta no
poder de Deus. Só ele conta. Sua única força era Deus (2Cor 13,4).
Como
acolher a graça da redenção que Cristo nos oferece? Primeiramente, nós
celebramos com a Igreja a Paixão do Senhor. Celebramos o fato que deu
lugar à nossa vida cristã. A Palavra confirma essa verdade, apresentando
Jesus como o Servo sofredor (Is 52,13-53,12) que ofereceu a sua vida em
expiação dos nossos pecados; como Sumo Sacerdote (Hb 4,14-16;5,7-9) que
se compadeceu de nós, autor de nossa salvação eterna, único mediador
entre Deus e a humanidade; como o Filho que cumpriu a vontade do Pai,
amando-nos até o fim (Jo 18,1-19,42). Rezamos, trazendo toda a
humanidade aos pés da cruz, na qual Cristo morre. Adoramos, na cruz, a
pessoa de Cristo crucificado, que se entregou por amor. Fazemos com
Jesus um só corpo e uma só vida, recebendo-o na hóstia consagrada.
Celebrando
esses momentos na liturgia, jamais nos esquecemos do nosso valor, que
custou a morte do Senhor. E com ele, fazemos o caminho que nos leva ao
Pai, que é a fuga do pecado, orientando a vida segundo os evangelhos, na
santidade de filhos e filhas de Deus.
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.



