28º Domingo do Tempo Comum
"Dai ao nosso coração sabedoria" (Sl 89,12)
Marcos 10,17-30 narra a cena de “alguém” rico (Mateus 19,22, diz um jovem, Lucas 18,18, um líder de alta posição) que faz uma pergunta fundamental: o que fazer para ganhar a vida eterna? Jesus apresentou como caminho de salvação o cumprimento dos mandamentos e o desprendimento dos bens temporais: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21).
Como era possuidor de bens, o interlocutor foi embora “cheio de tristeza”. A seguir, Jesus voltou-se para os discípulos e falou da dificuldade de um rico entrar no Reino de Deus. “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25), afirmou o Mestre. Ele alertou que o apego às coisas impede a entrada no Reino.
Mas para Deus tudo é possível. Pedro entrou em cena e disse a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Ele respondeu: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 28.29-30).
Quem age conforme a catequese de Jesus, é sábio. A Sabedoria é conhecê-lo por meio do Espírito, e através dele, o Pai. É Deus quem concede a sabedoria e a prudência. Guardar os seus mandamentos é estar no bom caminho.
“Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). Buscar a Sabedoria, é buscar o bem maior que dá sentido à nossa vida, é buscar o próprio Deus. Ter a ele é possuir tudo.
Aprendemos essa sabedoria com os santos: o que vale é conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento, para que sejamos repletos da plenitude de Deus. Nossa riqueza é Cristo habitando em nossos corações pela fé e que sejamos enraizados e bem firmados no amor.
No início do itinerário dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loyola apresenta o Princípio e Fundamento (EE, 23), uma espécie de resumo do projeto criador de Deus, que expressa o sentido último de toda a vida humana: o caminho da salvação consiste em louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor. Todas as coisas foram criadas para nos ajudar a atingir esse fim. Devemos usar delas “tanto quanto” nos ajudam, ou privar-nos delas “tanto quanto” nos impedem de atingir esse fim. Inácio fala da indiferença diante das coisas. Devemos desejar e escolher “somente aquilo que mais nos conduz ao fim para o qual somos criados”.
A fonte da vida é Deus. Sua Palavra “é viva, eficaz”, “julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4,12.) Ele nos fala de modo definitivo através do Filho, o Verbo encarnado, “herdeiro de todas as coisas” (Hb 12. Jesus nos oferece a Palavra e nos pede docilidade a sua acolhida. Segui-lo supõe um coração livre de apegos e afeições desordenadas. Vender tudo é renunciar o que atrapalha o nosso seguimento. Por Jesus, sua Palavra e pelo Reino, vale a pena vender tudo, pois teremos um tesouro no céu.
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.