6º Domingo do Tempo Comum

Os destinatários das bem-aventuranças são os pobres, os que têm fome, os que choram e os que são perseguidos. É uma síntese do programa de Jesus, anunciado na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18-21).

Lucas 6,17.20-26 narra o início do Sermão da Planície. O texto diz que “Jesus desceu da montanha com os discípulos e parou num lugar plano” (Lc 6,17). Muita gente estava presente. Levantando os olhos para os seus discípulos, ele proclamou quatro “bem-aventuranças e quatro ais”.

Os destinatários das bem-aventuranças são os pobres, os que têm fome, os que choram e os que são perseguidos. É uma síntese do programa de Jesus, anunciado na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,18-21). Ele é o Messias que veio libertar os pobres e restaurar o ano da graça do Senhor, o perdão das dívidas e a redistribuição das terras e propriedades. A eles pertence o Reino, serão saciados e cumulados de alegria. São os primeiros destinatários da salvação de Deus, porque o Senhor derrama sobre eles a sua misericórdia.

Os quatro “ais” são dirigidos aos ricos, aos que têm fartura, que agora riem e são elogiados. Deus tem para eles a mesma proposta de salvação, mas se persistirem na lógica da ganância, do egoísmo, da injustiça e autossuficiência, não entrarão no Reino.  

A Palavra de Deus apresenta dois caminhos:

Podemos orientar a vida prescindindo de Deus, vivendo à margem do seu plano e de sua vontade, confiando em nós mesmos, no acúmulo das coisas, no poder, na fama, no bem-estar desenfreado.

Segundo o profeta Jeremias (cf. Jr 17,5-6) e o autor do Salmo 1, quem vive assim percorre o caminho da morte, renuncia a felicidade e a vida plena. Tem uma existência limitada, frágil e sem consistência, é como um arbusto plantado no deserto ou a palha seca, condenados à morte e a dispersão pelo vento, pois não recebem o alimento e a força necessários para a vida e a segurança.

Podemos colocar nossa força, confiança e esperança em Deus, na sua Lei e na sua vontade, nas bem-aventuranças, como centro da existência. Agindo assim, somos como a “árvore plantada junto às aguas” (Jr,17,8), produzindo frutos no tempo certo, pois encontramos o alimento de que precisamos. Deus é a nossa segurança, a nossa solidez, a paz, a fecundidade. Só nele encontramos o rochedo seguro.

A Palavra é um convite constante à conversão. É uma proposta que passa pelo coração, pelas atitudes e pela abertura e confiança na misericórdia de Deus.

Tudo o que pertence à materialidade, ao progresso, à tecnologia, à ciência, à eficiência e à inteligência humana tem o seu valor e sua importância. Mas não é a nossa salvação. Tudo passa e, sem Deus, nada tem consistência. Na sua vontade e nos seus desígnios estão a nossa realização e felicidade.

A vontade de Deus é a nossa santificação (cf. 1 Ts 4,3). É “recapitular tudo em Cristo” (Ef 1,10), é viver o amor como pleno cumprimento da Lei, centro de tudo, vínculo da perfeição e nossa vocação fundamental (cf. Rm 13,8.10; 1 Cor 13,1-13; Col 3,14). Jesus Cristo é o sentido da existência humana na medida em que veio para salvar e redimir. Nele o ser humano encontra descanso (cf. Mt 11, 28). “Viver é Cristo” (Fl 1,21).

“Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos – de todos os homens – os mais dignos de compaixão” (1 Cor 15,19). Paulo apresenta a ressurreição de Cristo como o fundamento da fé e da vida cristã.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.