4º Domingo da Quaresma

Lucas 15 é o centro da revelação. As parábolas da ovelha e da moeda perdidas e do pai misericordioso revelam o conteúdo central da mensagem do Evangelho: Deus nos ama e quer nos salvar. Ele ama os pecadores com sua misericórdia.

A parábola do pai misericordioso. O pai é a figura central na história. Características das suas atitudes: a humildade – respeita a liberdade do filho, aceita limitar o seu poder; a esperança – espera com ansiedade o regresso do filho; a misericórdia – não olha o seu pecado, mas o seu coração arrependido, o seu amor pelos dois filhos transforma-os em irmãos; a coragem – vai ao encontro do filho, a sua autoridade não está na distância, mas no amor; a alegria – a volta do filho provoca festa e alegria, é sinal de vida; o sofrimento – a parábola revela um Deus que sofre, porque ama, não é indiferente.

O erro do filho caçula foi deixar o que tinha de mais valioso para viver só, em lugar distante. O pecado foi a divisão dos bens, a vontade de ser dono de sua vida, é o pecado do exílio, do sofrimento, da impureza. A sua tragédia é a degradação. É muito importante o seu caminho de volta. A salvação do filho aconteceu na humildade, no reconhecimento de suas necessidades e na coragem de dizer a verdade sobre si. É importante reconhecer o exílio exterior, que é a saudade de casa, mas muito mais importante é reconhecer o exílio interior, a raiz profunda do mal, o reconhecimento que pecamos contra Deus. Precisamos chegar até Ele como pobres e confessar a nossa culpa. No retorno, no arrependimento sincero, está a vida.

O filho mais velho é digno de todos os elogios, pois nunca transgrediu nada. Mas não compreendeu as atitudes do pai, é distante e raivoso. O seu pecado foi não perdoar. Nunca entendeu o que é o amor. Apesar de ser filho, enxergava-se como criado. Obedecia, mas não amava. Queria celebrar com os seus amigos, e não com o pai e a família. A vizinhança exterior não significa a vizinhança do coração. A figura do filho mais velho lembra os fariseus e os mestres da Lei, que tinham uma compreensão equivocada da justiça. Para eles, a salvação é mérito humano. O homem dá o primeiro passo, e Deus retribui como devedor, de acordo com as obras. Essa compreensão de Deus e da religião é estreita, fechada, nega a compaixão e a misericórdia divina. Muitos não participam da graça, mas ela é para todos.

Deus vem a nós na pessoa de Jesus para nos resgatar. Ele vem em busca da humanidade ferida para curar. Ama sem olhar a nossa condição.

A parábola continua em nossa vida. Ela nos convida a celebrarmos a misericórdia do Pai. Somos o filho que quer viver só e fazer da vida o que bem entender, como se Deus não existisse, o filho que se fecha na sua justiça e não entende o que é o perdão e o amor.

Jesus contou as parábolas para nos ajudar a celebrar a nossa condição de novas criaturas. Quem está em Cristo é uma criatura nova (cf. 2 Cor 5,17). Ele é a nossa reconciliação. Esta ideia de um novo nascimento aparece também como “vida nova” (Rm 6,4), “coisas do alto” (Col 3,1).

A velha criação é a vida no pecado, a nova criação vem em Cristo, inaugurada em seu corpo ressuscitado. Quem é batizado nele, torna-se nova criatura, está incorporado em Cristo, foi reconciliado.

“Deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5,21). O que Paulo quis dizer com isso? A interpretação mais comum é que Deus permitiu que Cristo sofresse para nos libertar das enfermidades. Ele tornou-se oferta pelo pecado por nossa causa, ainda que não tivesse pecado, para que nos tornemos justiça de Deus. Cristo é sem pecado, mas o Pai faz dele uma oferenda, para que nós pudéssemos ser reconciliados com Ele. Tornou-se uma oferta pelo pecado por nós, para que nos tornemos justos para ele e assim possamos nos tornar justiça de Deus. Em Cristo somos justificados e nos tornamos justiça de Deus.

O nosso caminho é a pátria de Deus, a pátria do amor. Como é bom confiar no perdão e na misericórdia do Pai! Só vamos reencontrar esta pátria e este caminho, chegando à pobreza.

O caminho da santidade não consiste na total ausência de falhas e pecados, mas na total confiança e abandono nas mãos de Deus. Ele usa dos nossos pecados para abençoar-nos e purificar-nos do mal. Sem o pecado nunca suspeitávamos da insondável riqueza da sua sabedoria e do seu amor. Mas somente o pecado reconhecido pode tornar-se um bem.

O Papa Francisco diz que “Deus é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar”. Deus tem paciência para conosco, espera o nosso tempo e nos pede também a prática dessa virtude. Por que a contrariedade, o nervosismo, a irritabilidade, o descontrole, o mau humor do filho mais velho? Nos momentos de tensões produzimos os maiores erros. Precisamos fazer as pazes com os nossos defeitos. Para isso é preciso humildade. Ela é caminho para a santidade. A humildade é o remédio para curar as feridas de nosso coração.

A Quaresma é um apelo de conversão, de reconciliação, de volta a Deus. A Igreja é depositária e dispensadora da reconciliação.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.