Ascensão do Senhor

Quando recitamos o Credo, professamos a nossa fé na ascensão de Jesus: afirmamos que ele “subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”.

 As Sagradas Escrituras atestam que Jesus, após à sua morte e ressurreição, foi levado para o céu e sentou-se à direita de Deus (cf. Mc 16,19; Lc 24,51; At 1,2.9.11; Ef 1,20). Na liturgia, celebramos este mistério no Domingo que antecede Pentecostes.

O Catecismo da Igreja Católica diz que “a ascensão de Cristo assinala a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste de Deus, de onde voltará, até lá, no entanto, o esconde aos olhos dos homens” (CIgC, 665). A ascensão é a celebração da exaltação do senhorio de Jesus, é o coroamento da sua caminhada entre nós. Ele agora está em plena comunhão de vida e de poder com o Pai, sentado à sua direita, no seu mistério, no seu ser e na sua soberania. A glorificação do Senhor Jesus não se explica com a razão humana, só os olhos da fé nos levam a celebrar a sua glória e senhorio.

Contemplamos o Senhor na sua glória, nosso desejo é o céu, nossa mente e o nosso coração se voltam para o alto, para onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Em Jesus, a nossa natureza foi exaltada. Celebramos essa graça na fé e no desejo. Deus é o nosso desejo, só nele encontramos a verdadeira felicidade.

A vida interior é essencial na Bíblia e na experiência cristã, é entrar no mais profundo do nosso ser. Esta é a viagem mais importante da nossa vida, percorrer o íntimo de nós mesmos, onde Deus faz a sua morada. “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada” (Jo 14,23). Santa Teresa de Jesus escreveu Castelo interior ou moradas, um guia de viagem para se chegar ao interior da alma, onde se encontra o castelo e nele mora um Rei. Nossa alma é um grande castelo composto de moradas: o Senhor mora no mais íntimo da alma. Para ela, não há nada mais grandioso, depois de Deus, do que o ser humano, na sua interioridade.

Mas na sociedade atual a interioridade perdeu espaço. O que vale é o exterior, a matéria, o rumor, o barulho, a distração. Mais cedo ou mais tarde, vem o vazio. Pois nenhuma ação legítima se sustenta se Deus não estiver na sua origem. Antes de servir, devemos nos colocar aos pés do Senhor e, em silêncio, escutá-lo. Na intimidade, nos reabastecemos. Depois da escuta amorosa e silenciosa, temos o que oferecer.

“Jesus foi levado ao céu à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo” (At 1,9). O encontro com Jesus se dá por meio dos sinais simbólicos da liturgia. Por isso, percebemos a sua presença quando estamos reunidos em torno da Palavra e da Mesa Sacramental.

Os olhos da fé nos levam a compreender que ao subir ao céu, Jesus não nos abandonou, mas tem agora um nova presença, ele age através do Santo Espírito. Dois efeitos são essenciais nessa ação: o Espírito ilumina os mistérios e as verdades da fé; também infunde em nossos corações o amor de Deus que nos purifica e nos santifica.

“Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,49). Agora é tempo do Espírito, tempo da vigilância e da ação, do apostolado e do testemunho (cf. At 1,8). É tempo de servir ao bem, à verdade e a Deus, esperando o regresso glorioso de Cristo.

O Batismo nos insere no corpo do Senhor, somos filhos de Deus, participamos da sua vida. Subimos ao céu com Jesus, mas enquanto não se realiza plenamente em nosso corpo o que o Pai prometeu, estamos em missão. “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48).

Rezemos pelo 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16). O saudoso Papa Francisco ressaltou na sua mensagem a necessidade de se “desarmar a comunicação”, pois a sua real função é gerar esperança e não “medo e desespero, preconceitos e rancores". Que Deus abençoe e ilumine todos os profissionais da comunicação no anúncio da verdade que gera a esperança.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.