Solenidade de Pentecostes

A festa solene de Pentecostes conclui o tempo da Páscoa, quando a Igreja acolhe e celebra o cumprimento das promessas de Jesus: a vinda do dom do Espírito Santo, fato narrado por Lucas nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) e por João, no seu Evangelho (Jo 20,19-23).

Há outras narrativas de experiências e manifestações do Espírito Santo no Novo Testamento, as duas lidas na liturgia são mais solenes.

Enquanto em Atos, o Pentecostes é mais movimentado: “veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania” (At 2,2), em João, Jesus soprou sobre os discípulos e falou: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Há um sopro sereno e doce, uma brisa leve e uma palavra de consolação.

O Espírito é a tradução de Ruah-Pneuma, no Antigo e Novo Testamentos, que significa vento ou sopro. Esta imagem serve para exprimir poder, liberdade e transcendência. Significa também respiração. A imagem do sopro lembra a bondade, a delicadeza e a quietude do Espírito Divino.

Recitamos assim uma conhecida invocação ao Espírito Santo: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito, e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém.

Vinde, Espírito Santo... Enviai o vosso Espírito. O Espírito está presente, é o Paráclito (Jo 14,16.26;15,26; 16,7), o nosso Intercessor, Ajudador, Consolador e Defensor, aquele que que age em nosso favor, auxilia, protege e sustenta.

Enchei os corações dos vossos fiéis. O Espírito realiza funções na vida da Igreja e na vida dos fiéis, através dos sacramentos. Concede dons para o serviço - adorna a Igreja com os carismas, dons concedidos em vista do bem comum (cf. 1Cor 12,7) -; e para a santificação – ajuda os fiéis a viverem as virtudes fundamentais no caminho da santidade, como a fé, a esperança, e a caridade. O Espírito oferece graças para a missão e para a santidade pessoal. Também é o Espírito que gera harmonia, comunhão e unidade na Igreja: “Como é que os escutamos na nossa própria língua?” (At 2,8); “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito” (1Cor 12,4). A ação do Espírito em nós nos leva a viver os frutos (cf. Gl 5,22-23): amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio de si. Fazer a experiência do Espírito é entregar as rédeas da própria vida ou as chaves da própria casa a Deus.

Acendei neles o fogo do vosso amor. O fogo é uma imagem bíblica, que indica a presença de Deus, que purifica, perdoa, transforma, destrói o pecado e nos faz arder de temor, zelo e amor. “Deus é amor” (1Jo 4,16). O Espírito é o amor de Deus derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5). Ele possibilita em nós a experiência do amor de Deus. “O fruto do Espírito é amor” (Gl 5,22). O amor de Deus é a experiência mais importante que o ser humano pode fazer, que dá sentido e orientação a sua vida. O Espírito nos ajuda a amar e caminhar rumo à santificação.

Tudo será criado, e renovareis a face da terra. O Espírito Santo é Criador, tem a força de vida e é tendência para a vida. Na sua ação criadora, o Espírito faz passar o mundo criado, do caos, aos cosmos, renova a face da terra, torna o mundo novo, belo, ordenado e limpo. O Espírito ilumina as nossas trevas, gera harmonia interior e faz de cada ser humano uma nova criatura. Faz do nosso ser uma coisa bela, pura e santa. Só o Espírito pode transformar e curar o nosso interior, a nossa vida e a realidade que nos cerca.

Instruístes os corações dos vossos fiéis... Fazei que apreciemos retamente todas as coisas. A teologia joanina apresenta o Espírito como o mestre que ensina, dá testemunho de Jesus, conduz e nos ajuda a discernir e apreciar retamente as coisas e chegar à verdade, pois ele é a verdade (cf. Jo 14,17.26).

Gozemos sempre de sua consolação. O Espírito Santo é alegria e a consolação verdadeira e perfeita. Quando o Pai nos ama e o Filho nos redime, estamos recebendo o gozo do Espírito.

O Espírito age em nós, mas com a nossa participação. Por isso, algumas atitudes são essenciais para a ação do Espírito: como o desejo – precisamos querer e suplicar a ação do Espírito em nós; a docilidade – Deus não age com violência, Ele respeita o nosso ser; a humildade - o abandonar-se em Deus, vencer a autossuficiência; a oração – assim dizia Santa Teresa, a reformadora do Carmelo: “Quanto mais uma alma se rebaixa em oração mais é elevada por Deus”; a obediência – que consiste em fazer sempre a vontade de Deus; a pobreza – que gera a liberdade e zelo pela missão. O Espírito não se vê, não se detém, não se mostra. Mas podemos experimentar a sua ação: quando alguém fala de Deus de tal maneira que os outros abraçam a fé; quando alguém dá a sua vida pelo Evangelho; quando respira paz, alegria, esperança; quando as pessoas se perdoam e se reconciliam; quando há harmonia nas famílias; quando se faz o bem; quando há solidariedade, respeito pela vida, pela natureza e pelos bens da criação. Quando agirmos assim o Espírito agirá em nós. Precisamos viver a “sóbria embriaguez do Espírito”, que purifica os pecados e vivifica o coração.

Para vivermos plenamente a nossa missão e assumirmos com fidelidade, entusiasmo e zelo apostólico os compromissos cristãos, precisamos da presença do Espírito. Ele nos conduz, “vem em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convém pedir, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” ( Rm 8,26). Por isso clamamos com confiança: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis”

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.