14º Domingo do Tempo Comum

“Quando estavam para se completarem os dias de sua exaltação, Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc 9,51).

Quase a metade do Evangelho de Lucas trata desta viagem (Lc 9,51-19,27). É um longo e duro caminho, desde a periferia da Galileia, até a capital. Muito mais do que um itinerário geográfico, temos o êxodo de Jesus, sua passagem deste mundo para o Pai. Em Jerusalém se concretizará esta travessia e missão: a entrega de sua vida e o oferecimento da Igreja.

No caminho, o Mestre ensinou, orientou e enviou os seus discípulos. Ele precisa de pessoas para o anúncio do Reino. Lucas 10,1-12.17-20 trata da missão.

O chamado e o envio são iniciativas do Senhor. O Pai é o dono da messe. Os discípulos são colaboradores.

A missão requer a união dos missionários: eles são enviados dois a dois. Setenta e dois indicam a totalidade na participação, todos colaboram. A comunhão na Igreja é sinal de obediência ao Senhor e sintonia com a sua vontade.

A oração é o alimento do trabalho missionário. Como Jesus, os discípulos devem rezar, pois esta experiência coloca os missionários em comunhão com Deus e a buscar nele a força, o amor e as graças necessárias para o trabalho. Orar é acolher a unção do Espírito Santo e tomar consciência de nossa pertença ao Pai. É preciso permitir que Deus nos amamente, nos carregue ao calo, nos acaricie e nos console. Dessa experiência, vem o nosso vigor (cf. Is 66,11-14).

  Os discípulos devem estar prontos para enfrentar os desafios e as resistências à missão. Mas a cruz de Cristo é a nossa glória (cf. Gl 6,14).

A pobreza e a simplicidade são condições para se entrar na dinâmica do Reino.

Os discípulos são portadores da Boa Nova do Reino de Deus: a paz, a cura dos doentes, a libertação do mal são sinais.

A alegria não é fruto do voluntarismo dos discípulos, mas das maravilhas que Deus realiza em suas vidas.

Dois acentos importantes na Liturgia da Palavra.

1 – O valor da ação missionária.

Obediente ao mandato de Jesus Cristo, a Igreja é enviada a evangelizar, através de todos os batizados, de modo particular, dos ministros ordenados. Evangelizar é uma palavra chave que resume toda a ação de Jesus Cristo, e a vocação própria da Igreja. Não é uma tarefa opcional, mas parte integrante da sua identidade. Ela deve experimentar sempre a alegria de ser discípula missionária. É chamada a proclamar com coragem, entusiasmo a mensagem perene do Evangelho. Alimentada pela Palavra de Deus e pelo Pão da Eucaristia, inspirada na caridade fraterna, a Igreja, através dos seus ministros, se coloca em estado permanente de missão, pois evangelizar caracteriza a sua natureza, é o paradigma de toda ação eclesial.

2 – O bem que é a paz.

“Eis que farei correr para ela a paz” (Is 66,12); “A paz esteja nesta casa!” (Lc 10,5). Nas Sagradas Escrituras, “shalom”, paz, é a totalidade dos bens, sinal da presença de Deus. Jesus é a nossa paz: Ele veio revelar que o amor de Deus derruba “o muro da inimizade”, forma “um só homem novo”, reconcilia as pessoas e anuncia a paz (cf. Ef 2,14-17). A paz trazida por Jesus é a paz interior, que ninguém pode nos tirar.

Há algumas condições e exigências essenciais para a concretização da paz: a prática da verdade, da justiça, do amor, da liberdade, da tolerância e do perdão; o desenvolvimento dos povos e sua autonomia, a superação da pobreza e desigualdades sociais, a superação dos conflitos, o desarmamento. Haverá paz na medida em que a humanidade for capaz de descobrir a sua vocação de ser uma única família, regulada pelos princípios de fraternidade, responsabilidade, sobriedade, generosidade, respeito e solidariedade.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.