17º Domingo do Tempo Comum
Há duas versões do “Pai Nosso”, a de Mateus (cf. Mt 6,9-13), um pouco mais desenvolvida, e a de Lucas (cf. Lc 11,1-4), mais enxuta.
Os conteúdos se aproximam. “A tradição litúrgica da Igreja conservou o texto de São Mateus” (CIgC, 2759).
A versão do “Pai Nosso”, em Lucas, destaca algumas particularidades. Inicia falando da oração de Jesus, “num certo lugar” (Lc 1,1). Ele foi uma pessoa de profunda comunhão com Deus e, por isso, de intensa e permanente oração. Aprendeu esta arte com a tradição do seu povo. O evangelista que mais apresenta Jesus em oração é Lucas: ele rezou no Templo (cf. Lc 2,49), por ocasião do seu batismo (cf. Lc 3,21), no deserto (cf. Lc 4,1-12), na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-21), após a realização de milagres (cf. Lc 5,16), quando escolheu os Doze (cf. Lc 6,12), ao predizer a paixão (cf. Lc 9,18), antes da transfiguração (cf. Lc 9,28), na ceia (cf. Lc 22,17.19). Jesus exultou diante da bondade e do amor do Pai (cf. Lc 10,21-22); explicou as Escrituras aos discípulos (cf. Lc 24,27). Jesus rezou orientou, aconselhou, insistiu e recomendou a prática da oração (cf. Lc 11,1-4;18,1-14;21,36;22,40-46). Rezou por nós (cf. 22,32; 23,34-36). Rezou nos momentos mais difíceis da paixão e sobre a cruz (cf. 22,40-46; 23,46). E ensinou os discípulos a rezar (cf. Lc 11,1-4). Só ele pode exercer esta incumbência, já que é Mestre na arte de orar.
A oração do Senhor em Lucas possui um corpo, ela nos coloca na presença de Deus Pai. Jesus nos ensinou a chamar a Deus de Pai, Abbá, em aramaico, é pai, paizinho. Era o modo de a criança chamar seu pai, com toda a confiança. O Senhor nos ensina a ter um relacionamento filial com Deus. “Podemos invocar a Deus como ‘Pai’, porque Ele nos foi revelado por seu Filho, feito homem, e porque seu Espírito nos leva a conhecê-lo” (CIgC, 2780). Somos filhos do Pai querido, no Filho Jesus Cristo, pela inspiração do Espírito Santo. Quando rezamos ao Pai, devemos despertar em nós o desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Deus é nosso Pai, nós somos seu povo e seu rebanho. A oração do “Pai Nosso” é um convite à fraternidade e comunhão dos filhos e filhas de Deus.
Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, seguem os pedidos. O primeiro é a santificação do nome de Deus. O desejo de Jesus é que o nome do Pai seja santificado. A santidade de Deus é o centro de seu mistério, é a sua glória, a sua majestade. É o próprio Pai que santifica ou dá a conhecer o seu nome. Mas também pedimos que nós sejamos abertos para acolher essa graça. Se vivermos bem, o nome divino é bendito.
“Venha o teu Reino” (Lc 11,2). Jesus fez do termo Reino de Deus, “Basileia tou Theou”, o tema central de sua pregação. O Evangelho é o anúncio do estabelecimento do Reino, da soberania de Deus. O Reino é dom do Espírito, é a realização das promessas, é a nossa esperança, a comunicação plena e total do Deus vivo em Jesus Cristo. “O Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria no Espírito santo” (Rm 14,17).
“Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos”. Com confiança, pedimos o pão cotidiano, alimento básico para a nossa vida, pedimos o pão espiritual, o pão da Palavra de Deus, o pão da Eucaristia, alimentos essenciais em nossa fé.
Pedimos o perdão dos nossos pecados, pois somos pecadores, reconhecemos as nossas misérias, mas confiamos na misericórdia de Deus, na redenção e remissão dos pecados. Acolhemos o perdão de Deus e procuramos colocá-lo em prática em nossos relacionamentos. Devemos perdoar, porque Deus nos perdoa e nos salva em Jesus Cristo.
Depois de percorrer a caminhada das petições, estamos preparados para discernir a voz de Deus e não nos deixar seduzir e enganar pela voz do tentador. A tentação é a apostasia, o afastamento da fé e do projeto de Jesus.
Jesus nos ensina que a oração deve ser constante, insistente e sem constrangimento. O Pai nos ouve, com certeza, e sempre responde. Devemos alimentar a esperança da manifestação da sua bondade. Ele sabe do que precisamos, e nos concede o bem maior: o dom do Espírito Santo (cf. Lc 11,13).
A misericórdia de Deus alcança toda a humanidade (cf. Gn 18,2-32).
Ser cristão é celebrar e viver a gratuidade do amor, da liberdade e da salvação; a graça da remissão dos pecados concedida por Jesus na cruz (cf. Cl 1,12-14).
Celebramos a 5ª Jornada Mundial dos avós e das pessoas idosas, com o lema: “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” (Eclo 14,2). A mensagem do Papa Leão XIV lembra alguns idosos na Bíblia que foram escolhidos por Deus para serem sinais de esperança. O Senhor é a nossa esperança, sobretudo na velhice. Perseveremos confiantes no Senhor. Cantemos a ele um canto novo, pois ele fez maravilhas.
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.