Santa Maria, Mãe de Deus

A liturgia da Oitava do Natal celebra a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.

É o primeiro dogma mariano e que ilumina os demais. Ela é mãe de Jesus, como homem e como Deus, concebeu por ação do Espírito Santo, mas experimentou uma gravidez humana normal. Maria é a filha predileta e escolhida por Deus, deixou-se conduzir por sua unção. A Igreja diz que ela é nossa Advogada, Auxiliadora, Socorredora e Medianeira (LG, 62). Como a João aos pés da cruz, Jesus nos olha com compaixão e nos diz: “Eis aí tua mãe”. Como o discípulo amado, nós a levamos para a casa do nosso coração, para a nossa vida, para as nossas famílias. Por isso, não pode haver melhor maneira de começar o ano estando perto de nossa Mãe, e viver assim todos os dias de 2026. É bom dizer sempre: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!”. Celebramos a liturgia do Ano Novo, olhando para Maria, pedindo a sua intercessão e seguindo-a como nosso modelo de santidade. Desejo que cada um sinta a presença materna de Maria, que nos dá colo, nos consola e nos protege. Quem acolhe Maria, acolhe a maior bênção, que é Jesus. Acolhe a Igreja e se deixa guiar por ela.

Celebramos também na Oitava do Natal a bênção de Deus, presente no Livro dos Números, conhecida como a bênção sacerdotal de Aarão: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26); e no salmo 66: “Que Deus nos dê a sua graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós!” (Sl 66,1). Na Bíblia, a bênção significa vida, proteção, liberdade, fecundidade e paz. Deus abençoa, guarda, protege, conduz, faz brilhar a sua face, mostra-se sorridente, revela-se compassivo, volta para o povo o seu rosto, olha com bondade e concede a paz. O Apóstolo Paulo diz que “Deus é bendito para sempre” (Rm 9,5). Em Cristo Jesus, Deus nos “abençoou com toda bênção espiritual” (Ef 1,3). Fomos chamados para ser “herdeiros da bênção”, nos diz Pedro (1 Pd 3,9). Deus age no mundo através dos seres humanos, quando pedimos a sua bênção devemos nos colocar à sua disposição, prontos para ajudá-lo a realizar o que pedimos. Com ela expressamos o nosso compromisso com o Senhor. O primeiro compromisso é de gratidão: bendizer significa falar bem de Deus. A bênção é antes de tudo um ato de louvor e agradecimento a ele.

Na liturgia do Ano Novo agradecemos a Deus o ano que passou. Ele nos acompanhou com um Pai amoroso que quer o bem dos seus filhos. Ele nos acompanhou como Filho Redentor: em Jesus Cristo somos salvos e reconciliados com Deus, por seu intermédio conhecemos o amor do Pai, entramos no caminho da santidade e participamos da natureza divina. Deus nos acompanhou como Espírito, iluminando o nosso caminhar e nos fortalecendo com os seus dons. Com tudo isso, só nos resta agradecer, pois fomos escolhidos por pura misericórdia. Que cada um em 2026 seja herdeiro da bênção. Esta é a nossa vocação: como pessoas, filhos, esposos, pais e mães, profissionais, alunos, amigos, cidadãos, cristãos, católicos.

São Paulo VI inseriu no primeiro dia do ano civil a oração pela paz. Jesus é a nossa paz (cf. Ef 2,14). Seu nascimento trouxe a paz (cf. Lc 2,14). Ele veio revelar o amor de Deus e destruir os muros de separação entre os homens. Pregou que são felizes e serão chamados filhos de Deus os que promovem a paz (cf. Mt 5,9). Nele todas as coisas foram reconciliadas e por seu sangue derramado na cruz, temos a paz (cf. Cl 1,20). Ressuscitado, Ele nos deixou o dom da paz (cf. Jo 20,19.21.26). A paz nasce da certeza de sermos amados por Deus. É a paz interior que ninguém pode tirar.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa Leão XIV escolheu como tema “A paz esteja com todos vós: rumo a uma paz desarmada e desarmante”. É um apelo que o Pontífice repete, lembrando as palavras do próprio Cristo ressuscitado, de reconciliação, de diálogo, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante, que gera confiança, empatia e esperança, que vem do próprio Deus. Esta paz exige o cessar-fogo das armas e das palavras. É preciso rejeitar a lógica da violência e da guerra, para abraçar uma paz autêntica, fundada no amor e na justiça.

Em Jesus, somos instrumentos da paz. Assumimos essa missão, quando vivemos o amor, o perdão, a paciência, a tolerância, a união, a justiça, a verdade, a esperança, a alegria. A não-violência é o caminho para a paz. Que cada um experimente a paz que só Jesus pode oferecer. Desejo que cada um seja promotor e instrumento da paz. Que Maria, Mãe de Deus e nossa, interceda por nós e pelo mundo inteiro.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.