4º Domingo de Tempo Comum - Ano A

Reflexão da Liturgia Dominical.

Mateus 5,1-12 narra as bem-aventuranças, iniciando o sermão da montanha, o primeiro grande discurso de Jesus neste Evangelho. Como Mestre da justiça que faz nascer o Reino, Ele subiu ao monte e sentou-se, e dali começou a ensinar aos discípulos.

Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: sobre a chamada à santidade no mundo atual, o Papa Francisco oferece indicações sobre como viver a santidade hoje. No terceiro capítulo, intitulado “A luz do Mestre”, ele faz uma reflexão sobre as bem-aventuranças, como caminho principal para a santidade. De fato, as bem-aventuranças são indicações na aventura da santidade, um caminho da verdadeira felicidade, “o bilhete de identidade do cristão”, segundo o Papa (nº 63).

“Bem-aventurados os pobres em espírito” (Mt 5,3). A primeira bem-aventurança é uma síntese do texto. A pobreza no espírito é a atitude fundamental no seguimento de Jesus e no caminho da santidade. Ser pobre em espírito é depender de Deus e identificar-se com Ele na pobreza de coração, na humildade, na confiança total. É buscar apoio somente no Senhor, vencendo a idolatria e ser livre para o Reino. Deus escolheu os pobres, fracos e simples para realizar o seu plano (1 Cor 1,26-31). “Ser pobre no coração: isto é santidade” (nº 70).

“Bem-aventurados os aflitos” (Mt 5,4). A aflição nasce da pobreza. Os que choram encontram consolo só em Deus, Ele é o socorro e a consolação. Os aflitos esperam a justiça do Reino. “Saber chorar com os outros: isto é santidade” (nº 76).

“Bem-aventurados os mansos” (Mt 5,5). Quem é pobre no espírito vive a mansidão, que não é passividade, mas resistência sem violência. Jesus é manso e humilde de coração (Mt 11,29). A mansidão é fruto do Espírito (Gl 5,23), é “expressão da pobreza interior” (nº 74). Viver a mansidão é andar contra a maré daquilo que prega e vive a sociedade de hoje. “Reagir com humilde mansidão: isto é santidade” (nº 74).

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6). A chave de leitura do Evangelho de Mateus é a “justiça que faz nascer o Reino”. Por ocasião do seu batismo, Jesus diz: “devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3,15). A comunidade deve superar a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5,20) e buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6,33). Viver a justiça do Reino é a prática perfeita da vida cristã, é buscar o seu autor, o próprio Deus. A conversão para o profeta Sofonias é abrir-se a Deus, buscar a justiça e a humildade (Sf 2,3;3,12-13)). “Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade” (nº 79).

“Bem-aventurados os misericordiosos” (Mt 5,7). A misericórdia é o coração que pulsa nos Evangelhos, nas palavras do Papa Francisco. É o próprio Jesus de Nazaré que veio para salvar (Mt 9,13), o Cordeiro de Deus imolado e ressuscitado que tira o pecado do mundo. A misericórdia é um sentimento de Deus, é sentir a dor do outro e ser solidário. “Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade” (nº 82).

“Bem-aventurados os puros de coração” (Mt 5,8). O coração na Bíblia é a profundidade do ser, a sua interioridade, lugar da abertura para Deus e para o ser humano. Ter pureza de coração é praticar a vontade de Deus. É ser íntegro, simples, transparente e reto no agir. “Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade” (nº 86).

“Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5,9). Viver a paz é seguir Jesus no seu caminho. É buscar a harmonia, o bem-estar, o direito e a justiça. Ele é a nossa paz (Ef 2,14). A paz que recebemos do Senhor deve entrar em nosso coração e se estender a todos os ambientes em que vivemos. “Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade” (nº 89).

“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça... “Bem-aventurados quando vos injuriarem e perseguirem” (Mt 5,10.11). A perseguição dos discípulos identifica-os com Jesus e com o Reino. “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade” (nº 94).

A recompensa no caminho das bem-aventuranças é o Reino dos Céus, fonte de exultação e alegria (Mt 5,12a).  “Quem se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Cor 1,31).


Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.