Jesus "ensinava como quem tem autoridade" (MC 1,22)

4º Domingo do Tempo Comum

Entre as principais tarefas da Igreja está a pregação da Palavra. Obedecendo aos apelos e mandato do Senhor (Mt 28,19-20; Mc 16,15-16), ela propaga a fé e a salvação de Cristo. O ministério da Palavra tem uma importância fundamental na sua missão: ela é enviada, através de todos os batizados, a evangelizar.

Continuamos lendo e meditando trechos do Evangelho de Marcos (Mc 1,21-28). A cena trata do ensino de Jesus, com autoridade e libertação.

O ministério da Palavra vem desde o Antigo Testamento. Deus falou aos nossos pais pelos profetas (Hb 1,1). Moises transmitiu ao povo a decisão do Senhor fazer surgir no meio dele um profeta, a quem deveria escutar. A sua missão era anunciar, com fidelidade, a sua palavra e a sua vontade. Da parte do povo, deveria ouvir com atenção e obedecer (Dt 18,15-20). O profetismo bíblico surgiu com essa missão: proclamar a Palavra de Deus. O profeta é mensageiro de sua Palavra.

Cristo é o Verbo encarnado (Jo 1,14), o profeta “poderoso em obras e palavras” (Lc 24,19), através dele o Pai falou de modo definitivo, uma “palavra poderosa”, que “sustenta todas as coisas” (Hb 1,3).

Marcos apresenta Jesus como mestre de ensino. Mas ele não estudou com os rabinos da época, nem assumiu a função de escriba, ou seguiu o método rabínico de estudar e ensinar. A sua pedagogia era própria e peculiar, causava espanto e admiração. O seu ensinamento era feito com autoridade, no dizer do povo (Mc 1,22.27). Enquanto os mestres de Israel tinham como base de pregação e ensino a Lei, Jesus anunciava o Reino de Deus, conteúdo central do seu ensino (Mc 1,14-15; 4,11.26.30; 9,1.47; 10,14.15.23.24.25; 12,34; 14,25). Ele não veio abolir a Lei, mas levá-la à perfeição (Mt 5,17). Cumpriu a Lei (Mc 1,44), mas não como instrumento de dominação, e sim de libertação, pois a vida e o bem das pessoas estão acima da Lei (Mc 2,27; 3,1-5). O Reino anunciado por Jesus relativiza a Lei, e o seu ensinamento tem íntima comunhão com a vida das pessoas.

Cumprindo o mandato de Jesus, os discípulos “foram anunciar por toda parte” o Evangelho (Mc 16,15.20). Esta missão hoje cabe à Igreja, através de todos os batizados, mas de modo particular, é incumbência dos seus pastores. Ela é enviada a evangelizar, esta é “a graça e a vocação da Igreja, a sua mais profunda identidade” (EN, 14).

A Palavra deve ser ouvida e acolhida: “Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!”, rezamos no refrão do Salmo 94 (95). Deus irá pedir contas “a quem não escutar” as suas palavras (Dt 18,19). Guardar a Palavra é permanecer em comunhão com o Senhor (1 Cor 7,35). Aprendemos de Jesus, que sempre estava em sintonia com Deus: a sua autoridade, o seu alimento era fazer a vontade do Pai (Jo 4,34).

Cristo é o centro do ministério da Palavra, é a ele que anunciamos, não a nós mesmos (1 Pd 4,11; 2 Cor 4,5). A missão da Igreja é anunciar Jesus Cristo e o seu Evangelho. Esse testemunho fala mais que as palavras. A autoridade dos pregadores da Igreja vem do Espírito e da misericórdia de Deus.

Os pregadores aprendem com Maria a encarnar em si a Palavra de Deus. A Palavra se fez carne nela em dois momentos: quando acolheu a mensagem do anjo Gabriel e por nove meses carregou o Verbo no seu seio e quando o alimentou. E em sua vida, quando a mãe de Deus se deixou guiar e iluminar pelos seus desígnios e pela sua vontade. “Toda alma que possui a fé concebe e dá à luz a Palavra de Deus... O Cristo é fruto de todos” (Santo Ambrósio). Podemos conceber o Verbo no coração e na vida, e deixar que a Palavra se encarne em nós e ilumine o nosso caminho e o de nossos irmãos.

Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.