"Foi para isso que eu vim" (Mc 1,38)

5º Domingo do Tempo Comum

Marcos 1,29-39 narra a cena da cura da sogra de Simão. Após esta cura, outras se seguem. “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Procurado por Simão e seus companheiros, convidou-os para a missão: ele veio para pregar, e “andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios” (Mc 1,39).

Algumas considerações importantes nas cenas.

A cura da sogra de Simão aconteceu na casa. “Jesus se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se” (Mc 1,31). O seu gesto de amor e carinho provocou a cura. Livre da febre, “ela começou a servi-los” (Mc 1,31). Jesus é aquele que devolve a liberdade e a possibilidade para o serviço.

Outras curas aconteceram, revelando a missão de Jesus como o servo que carrega as enfermidades das pessoas: ele veio para pregar, curar e libertar (Mc 1,38-39). Em obediência ao Pai, Jesus “carregou nossos pecados em seu próprio corpo” (1 Pd 2,24). Esta é a verdade do mistério pascal da redenção de Cristo: ele ofereceu a sua vida por amor e obediência, e assim nos justificou. Com ele, o mistério da redenção entrou em ação. As curas e libertações são sinais do Reino, a vitória do bem sobre o mal.

O fato de Jesus curar não se restringe ao seu ministério histórico: ele está vivo e os sinais da sua redenção continuam na missão dos apóstolos e da Igreja, revelando o amor e a bondade de Deus.

Os seres humanos sempre buscaram a cura através do recurso da ciência, da técnica e da medicina, colaborando assim com Deus, que age em sua inteligência. A luta pelo bem e pela saúde, revela que somos responsáveis pela nossa vida e devemos cuidar da mesma. A racionalidade humana busca a sua preservação na distribuição igualitária dos recursos necessários: esta obrigação é nossa.

Mas Jesus nos ensinou também a rezar e a pedir ao Pai pelo nosso bem. Esta atitude de fé e de confiança é expressão de nossa humildade e reconhecimento quem nem tudo está em nossas mãos. Quando rezamos, pedindo a ação do Senhor, é porque acreditamos que ele está vivo, que o Espírito Santo age em nosso favor, que podemos ser instrumentos em suas mãos.

Jesus expulsava demônios. Na época, o mal recebia vários nomes, demônio era um deles. Ele nos ensinou a rezar: “livrai-nos do mal” (Mt 6,13). O mal existe e se opõe a Deus, é inimigo da obra da salvação realizada em Jesus Cristo, e interfere em nossa vida. O mal é uma realidade terrível que nos afasta da fé e do projeto de Jesus e de nós mesmos. Gera degradação e fere a imagem divina presente no ser humano.

Ao libertar a pessoa, Jesus devolve a sua dignidade. Ele é mais forte e veio para amarrar Satanás, o poder do mal. Não precisamos ter medo, pois nada será capaz de nos “separar do amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,39).

O livro de Jó ensina que a vida do ser humano na terra é uma luta (Jó 7,1-4.6-7). Vista com os olhos humanos, é um sopro. O sofrimento e a dor crescem como mato na roça do mundo, e não há enxada que alcance a sua raiz. O sofrimento tem várias causas e muitas explicações. Mas nem sempre o ser humano consegue ter respostas para tudo. A chave para se descobrir o sentido total do sofrimento e da dor está nas mãos de Deus. Para encontrá-la, precisamos ir até ele, numa atitude de fé e confiança. Só Deus é capaz de gerar a vida da morte, e nenhum sentido podemos encontrar fora dele.

Jesus venceu o mal com a sua paixão, morte e ressurreição. Sua cruz pode parecer um absurdo, mas ela é fruto do amor e gera a redenção. Este é o Evangelho que Paulo pregou (1 Cor 9,16-19,22-23). Ele se inspirou em Jesus que se esvaziou de si para nos salvar. 


Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.