"Sois, Senhor, para mim, alegria e refúgio"

6º Domingo do Tempo Comum

Assim narra Marcos: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres tens o poder de curar-me’. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!’. No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado” (Mc 1,40-42).

Algumas atitudes e ações importantes na cena: primeiramente, da parte do leproso, que conhecia a sua situação diante da Lei. Segundo o livro do Levítico 13,1-2.44-46, um leproso era um impuro, um pecador que foi castigado por Deus. A lepra era uma doença cruel que excluía a pessoa doente do convívio social, ela deveria viver isolada e apresentar sinais nas vestes, no corpo e nas atitudes que revelavam a sua situação. Ninguém se aproximava de um leproso, sem o perigo e a determinação de impureza, conforme a prescrição da Lei. A comunidade se defendia do doente, em vez de ajudá-lo. A Lei de Moisés estava fundamentada na santidade de Deus e do povo, e nada de impuro deveria contaminar esta santidade, baseada no princípio da pureza ritual e externa. O leproso e impuro perante a Lei, venceu as barreiras do medo e do preconceito, não teve vergonha de mostrar-se e revelar a sua situação. Aproximou-se de Jesus com fé e confiança; ajoelhou-se e pediu a cura. Ele acreditou em Jesus e no seu poder sobre o mal. Curado, ele “começou a contar e a divulgar muito o fato” (Mc 1,45). 

Quem tomou a iniciativa de se aproximar de Jesus e pedir a cura, foi o leproso. Mas a graça vem de Deus. Jesus se comoveu com o doente, estendeu a mão para tocá-lo e curá-lo. Superou a prescrição da Lei, valorizando a pessoa. A cena revela Jesus como o Messias que tem o poder de purificar, perdoar e reintegrar a pessoa, devolvendo-lhe a vida e a saúde. Esta é a vontade de Deus. Após a cura, Jesus “ficava fora, em lugares desertos” (Mc 1,45). Ele ocupou o lugar do leproso, carregando os seus pecados.

A primeira leitura, tirada de 2 Reis 5,9-14, narra a cura de Naamã, chefe do exército do rei da Aram, que estava doente, com lepra. Depois de superar certa resistência ao pedido do profeta Eliseu, ele foi se lavar nas águas do rio Jordão, “e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado” (2 Rs 5,14). Sua cura revela que Deus é misericordioso também com um estrangeiro.   

Rezamos na Santa Missa: no Ato penitencial, “Senhor, tende piedade de nós, e no Rito da comunhão, “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. Estas orações de súplica revelam a nossa condição de pecadores, as feridas provocadas em nossa alma por causa do pecado, e que precisam ser curadas, mas também são expressões de nossa confiança na misericórdia do Senhor, “no qual temos a redenção, o perdão dos pecados” (Cl 1,14).

Senhor, “se queres tens o poder de curar-me”. Cheio de compaixão, Jesus nos responde: “Eu quero, fica curado”. Precisamos assumir a nossa condição de pecadores, vencer o medo e não ter vergonha de nos aproximar de Jesus. Temos necessidade do perdão. Na Igreja, canal do amor e da misericórdia de Deus, celebramos o perdão. Perdoados e curados, saímos ao encontro dos irmãos, solidários com a sua dor.

Em 1 Cor 10,31-11,1, Paulo apresenta uma regra de vida: fazer tudo para a glória de Deus. Em tudo devemos dar graças e louvor a Ele.

Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.