2º Domingo da Quaresma

"É vossa face, Senhor, que eu procuro!"

Jesus fazia constantes pausas para retomar as energias: ficou aproximadamente 30 anos em Nazaré, no anonimato; após o batismo, foi impelido pelo Espírito ao deserto, e ali permaneceu durante quarenta dias, sendo tentado por Satanás (Mt 4,1-2; Mc 1,12-13; Lc 4,1-2); segundo Lucas, foi à montanha para orar, e passou a noite em oração a Deus, antes de chamar os discípulos (Lc 6,12.13); antes da profissão de fé de Pedro, orou à parte (Lc 9,18); e antes de ensinar a sua oração aos discípulos, orou a sós em certo lugar (Lc 11,1); rezou no Getsêmani, antes da morte (Mt 26,36-46; Mc 14,32-42; Lc 22,39-46).    


No 2º Domingo da Quaresma refletimos e rezamos um dos momentos de pausa mais importante, significativo e revelador de Jesus e do seu ministério, presenciado por Pedro, Tiago e João, que é a transfiguração, presente nos três evangelhos sinóticos (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36). A cena em Marcos vem logo após o primeiro anúncio da paixão. Diante da incompreensão do seu messianismo, aconteceu este fato, confirmando que seu projeto é vitorioso, porque garantido pelo Pai. Ele é o Filho amado, a quem devemos escutar. Nele, as promessas se cumprem: a Lei, simbolizada em Moisés, e o profetismo, em Elias.


A transfiguração antecipa a vitória de Jesus e confirma o seu caminho de despojamento, esvaziamento, obediência e serviço. O caminho de cruz é o do amor como única força capaz de vencer o sofrimento, a dor, as crises e a morte.


“Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7). Numa realidade com tantas vozes, sons e solicitações, que podem nos confundir e desviar da estrada certa, a cena da transfiguração no convida a um apelo maior:  ouvir e discernir a voz do Pai. A nossa vocação é estar atentos à Jesus. Escutar o que ele diz é acolher a sua pessoa como Filho de Deus, como o Messias, nosso Senhor e Salvador. É aderir ao seu caminho, seguir os seus passos e viver da sua vida.


Como Pedro, podemos achar que o alto da montanha é o melhor lugar. Quem não quer subir na vida? Mas Jesus nos quer na planície do dia a dia, da nossa história, marcada por alegrias e realizações, mas também por decepções, dores e sofrimentos. Ali a resposta é mais exigente, implica dificuldades, renúncias e desafios, porém o que Ele pede não supera as possibilidades do ser humano. E a subida mais importante se dá neste aprendizado, que é a santidade. Sempre com Jesus, pois sem ele corremos o risco de escorregar.


Abraão recebeu de Deus a promessa de descendência, bênção e terra. Mas foi colocado à prova, oferecendo a Ele o único filho, o bem do seu coração. Sua obediência, fidelidade e abandono são fontes de bênçãos (Gn 22,1-2.9-13.15-18). Quem tem fé sabe que Deus é Deus, e que deve confiar sempre, mesmo nas noites escuras da vida.


O Pai, além de Abraão, “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós”. Temos um grande intercessor que ofereceu a sua vida para nos salvar. Se Ele é por nós, “quem será contra nós?” (Rm 8,31-34). Com Jesus, podemos guardar a fé, mesmo dizendo: “É demais o sofrimento em minha vida” (Sl 115, 10). Podemos descer da montanha e seguir o seu e o nosso caminho, com confiança, coragem e fidelidade. Abraçar o propósito do “Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade”, nos ensina o Papa Francisco (GE, 94). Seguindo Jesus assim, prosseguimos em nossa Quaresma, rumo à Páscoa do Senhor e nossa páscoa.


 


Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.