5º Domingo da Páscoa 2022

Reflexão da Liturgia Dominical

João 13,31-33ª.34-35 faz parte do conhecido “Livro da Glorificação” (Jo 13-17). É um conjunto de orientações e exortações de Jesus aos “seus”. No contexto da celebração da ceia com os Doze, no cenáculo, Ele realizou um gesto desconcertante, lavando os pés dos discípulos. Foi um ato de amor e humildade: Jesus amou, servindo. Após o gesto, temos uma espécie de catequese com vários assuntos, com as últimas lições do Mestre, através de palavras marcadas pela intimidade, ditas num clima de discrição e contemplação. No centro de tudo está o mandamento novo: a prática do amor.

Na passagem indicada na liturgia, Jesus falou de sua glorificação: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo” (Jo 13,31-32). A glória de Jesus é a revelação do projeto de Deus. Nele, o Pai revela a sua vontade aos seres humanos. A glória do Filho se manifesta no mistério pascal, na sua entrega fiel e obediente, morrendo na cruz. O Pai o ressuscitou pelo poder do Espírito.

“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). Jesus foi glorificado porque amou os “seus que estavam no mundo até o fim” (Jo 13,2).

João é conhecido como o “discípulo que Jesus amava” (Jo 13,23; 19,26. O tema do amor é constante no seu Evangelho, mas aparece somente a partir do capítulo 13, antes da cena do lava-pés: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). A partir do gesto, temos uma forte catequese sobre o mandamento novo, que continua nas cartas.

O amor é um aprendizado, e Jesus é o professor. Ele nos ensina o que é o amor e o que é amar. O gesto do lava-pés é uma indicação de que o amor é expressão do serviço.

Jesus amou os discípulos com o mesmo amor divino que o Pai tem por ele. Este amor deve caracterizar os seus seguidores. O amor das pessoas divinas pelos discípulos gera a possibilidade dos mesmos amar a Deus e amarem-se reciprocamente.

O amor não é só sentimento, simpatia e emoção. É o amor teologal, divino, que desce do Pai para o Filho e para nós, através do Espírito, e nos une como irmãos. Na prática do amor, os discípulos revelam-se como seguidores de Jesus (Jo 13,15).

Características do amor fraterno: serviçal - o lava-pés é a crucificação na vida diária, como Jesus lavou os nossos pecados, devemos lavar as decepções, os fracassos e as crises dos irmãos. A novidade do mandamento deixado por Jesus é amar como ele amou, oferecendo a vida, servindo gratuitamente. Amor permanente - até o fim, amar no sacrifício. O amor é comunitário - não exclui ninguém.

Atos 14,21b-27 narra a conclusão da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé. Esses apóstolos encorajam os discípulos e os exortam a ficarem firmes na fé, mesmo diante das tribulações e das oposições ao projeto de Deus. A perseverança revela a fidelidade a Deus.

Em Apocalipse 21, João descreveu como será o fim, o que Deus preparou para aqueles que o amam. Esse “fim de caminhada” é dom de Deus e fruto da fidelidade e perseverança dos cristãos. Irão participar aqueles que têm o nome escrito no “Livro da vida do Cordeiro”. O futuro é descrito através de imagens: “novo céu e nova terra” (v.1), “nova Jerusalém” (v.2), “noiva enfeitada para o seu esposo” (v.2), “nova aliança” (v.3), “novas todas as coisas” (v.5) ...  Enfim, o futuro é o próprio Deus que vem morar no meio do seu povo, enxugando “toda lágrima dos seus olhos” (v.4). Ele é a luz que brilha sobre nós. E Jesus, o Cordeiro, a lâmpada.

Vendo a realidade do mundo de hoje, com tantos desafios, violências, injustiças, sofrimentos, miséria humana, lamentos, choros e lágrimas, tomamos consciência que temos um longo caminho a percorrer. O futuro descrito no livro do Apocalipse alimenta a fé e a esperança. O remédio é a vivência do amor, mandamento novo deixado por Jesus, como fruto do Espírito e esforço humano.

O mundo marcado pelo desamor já foi reconciliado por Cristo, aconteça o que acontecer. Às vezes dá a impressão que Jesus perdeu e o inimigo venceu. Mas não é verdade. A sua paixão já redimiu o mundo, pois o amor é mais forte do que o ódio. Temos que manter essa fé e acreditar na vitória de Cristo sobre o mal. No final das contas, o mal é um vazio, uma mentira, uma ilusão. O real é o amor de Jesus.

Alimentos para a prática do amor fraterno: Espírito Santo, Palavra de Deus e os sacramentos. Na Eucaristia intensificamos a vida espiritual e o nosso apostolado. Beber e comer do amor divino é o que nos fortalece na vida espiritual e nos capacita para a missão.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.