Solenidade de Pentecostes 2022

Reflexão da Liturgia Dominical

A festa solene de Pentecostes conclui o Tempo da Páscoa. Para os israelitas, Pentecostes era uma festa da roça, ligada às colheitas. Mais tarde tornou-se uma festa religiosa, para recordar o dia em que Moisés recebeu a Lei das mãos do Senhor, no monte Sinai. Os cristãos celebram a experiência narrada por Lucas nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), onde os discípulos receberam o Espírito Santo. Este fato marcou o nascimento da Igreja e a marcha do testemunho.

O Evangelho de João apresenta a manifestação de Jesus aos apóstolos (Jo 20,19-23). Somos convidados a acolher: a presença de Jesus ressuscitado, a paz, a alegria, o perdão, a Igreja, a cura do medo, a missão e o testemunho. Mas o dom maior é o próprio Espírito.

Quem é o Espírito Santo?

Em uma de suas viagens missionárias, quando estava em Éfeso, Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: “Vós recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé”? Eles responderam: “Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!” (At 19,1-2). Será que conosco acontece a mesma coisa? Sabemos que existe o Espírito Santo. Mas muitos não possuem uma compreensão clara da teologia do Espírito.

O Espírito é a tradução do termo hebraico ruah, que possui vários significados: ar, brisa, vento, sopro, fôlego, respiração, hálito e outros. Em Gênesis 1,1, algumas traduções bíblicas optam por “espírito de Deus”. As imagens descritas exprimem poder, liberdade, bondade, delicadeza, intimidade, quietude e transcendência do Espírito Divino. A respiração é aquilo que há de mais íntimo e vital na vida humana. No Antigo Testamento, o espírito é algo dinâmico, o princípio da vida e da atividade vital. No Novo Testamento, o termo grego que traduz espírito, com significados semelhantes ao termo hebraico, mas também com algumas originalidades, é pneuma.

O Espírito Santo é uma pessoa. É a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, procede do Pai e do Filho, é consubstancial ao Pai e ao Filho.

O Espírito de Deus é Santo, pois a natureza de Deus é a santidade.

Ele é criador, é o princípio da criação das coisas. Transforma o caos em harmonia, “cria e renova a face da terra”.

Uma das ações do Espírito por excelência é a da intercessão: Ele é o Paráclito (Rm 8,26; Jo 14,16.26; 15,26; 16,7; 1Jo 2,1), o advogado, aquele que é chamado para estar junto, para proteger, para defender, para consolar. A teologia joanina apresenta o Espírito como o mestre que ensina, recorda e dá testemunho de Jesus. Ele guia para a verdade.

“Se alguém tem sede, venha a mim, e aquele que acredita em mim, beba” (Jo 7,37). O Espírito é água viva, Ele nos dá a vida de Cristo ressuscitado. É também o fogo, o que purifica, perdoa, transforma e destrói em nós o pecado e nos faz arder de temor e zelo por Deus.

O Espírito é dom de Deus (At 2,38; 8,20; 10,45), aquele que é dado, mas é também o princípio da doação. Ele é “dom” e “dar-se” ao mesmo tempo. É a unção divina, o doador dos dons.

Deus é amor (1Jo 4,16). O Espírito é o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5,5). Ele possibilita em nós a experiência do amor de Deus. “O fruto do Espírito é amor” (Gl 5,22)

Em nossas orações pedimos que o Espírito nos liberte do inimigo. Ele é o nosso guia. Convencidos disso seremos conduzidos por caminhos certos.

O Espírito realiza funções na vida da Igreja e na vida dos fiéis, através dos sacramentos. Concede dons para o serviço - adorna a Igreja com os carismas, dons concedidos em vista do bem comum (1Cor 12,7) -; e para a santificação – ajuda os fiéis a viverem as virtudes fundamentais no caminho da santidade, como a fé, a esperança, e a caridade. O Espírito oferece graças para a missão e para a santidade pessoal.

O Espírito age em nós, mas com a nossa participação. Por isso, algumas atitudes são essenciais para a ação do Espírito: como o desejo – precisamos querer e suplicar a ação do Espírito em nós; a docilidade – Deus não age com violência, Ele respeita o nosso ser; a humildade - o abandonar-se em Deus, vencer a autossuficiência; a oração – assim dizia Santa Teresa, a reformadora do Carmelo: “Quanto mais uma alma se rebaixa em oração mais é elevada por Deus”; a obediência – que consiste em fazer sempre a vontade de Deus; a pobreza – que gera a liberdade e zelo pela missão. Quando agirmos assim o Espírito agirá em nós. Precisamos viver a “sóbria embriaguez do Espírito”, que purifica dos pecados e vivifica o coração.

Fazer a experiência do Espírito é entregar as rédeas da própria vida ou as chaves da própria casa a Deus

A ação do Espírito em nós nos leva a viver os frutos (Gl 5,22-23): amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio de si.

Para vivermos plenamente a nossa missão e assumirmos com fidelidade, entusiasmo e zelo apostólico os compromissos cristãos, precisamos da presença do Espírito. Ele nos conduz, “vem em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convém pedir, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Por isso clamamos com confiança: “Oh vinde, Espírito Criador, as nossas almas visitai e enchei os nossos corações com vossos dons celestiais”.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.