4º Domingo do Advento 2023

Reflexão da Liturgia Dominical

No 4º Domingo do Advento lemos a cena da anunciação (Lc 1,26-38). Ela é iniciativa do amor de Deus: “O anjo Gabriel foi enviado por Deus... O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,26. 35). É o cumprimento das suas promessas, que acontece por puro amor Daquele que vê, ouve, conhece e sente as dores da humanidade.

O conteúdo da anunciação diz respeito primeiramente ao Messias: quem vai nascer de Maria será Jesus, o Filho do Altíssimo, o Santo, Filho de Deus, o Rei. Diz respeito à Maria: ela é a virgem “cheia de graça”, objeto da complacência divina, o Senhor está com ela. O conteúdo da anunciação diz respeito também a nós: Jesus se encarnou para nos salvar e nos reconciliar com Deus; para que conhecêssemos o seu amor; para ser nosso modelo de santidade e nos tornar participantes da natureza divina.

Quais as lições da anunciação? As primeiras reações de Maria são humanas: susto, surpresa, confusão, medo, interrogações. Após às palavras do anjo, ela supera tudo isso: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Maria fez a vontade de Deus assumindo a condição de serva. O seu sim é uma atitude de obediência e de colaboração ativa à iniciativa divina. A palavra-chave do 4º Domingo do Advento é: obediência. 

Há um princípio formulado por Santo Tomás de Aquino que diz: a graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza humana. O Catecismo da Igreja Católica define a graça como “favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder ao seu convite: nos tornarmos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da vida eterna... A graça é uma participação na vida divina; nos introduz na intimidade da vida trinitária” (CIgC, 1996.1997). Como dom do Espírito Santo, a graça compreende os seus dons para nos associar à sua obra.

A graça supõe e aperfeiçoa a natureza. No seu infinito amor, Deus confia na resposta livre do agir humano: Ele conta com a nossa colaboração. A sua obra acontece naqueles que se dispõe a participar.

O tempo do Advento nos apresenta figuras tementes a Deus, que acolheram a sua graça, foram solícitas e se ofereceram para servi-lo. Maria é um modelo perfeito de disponibilidade à graça do Senhor. É a serva preenchida de graça, livre para obedecer. É a mãe da obediência e da disponibilidade. Deus agiu na sua pobreza, obediência e generosidade. A encarnação do Verbo foi possível com o seu sim

A obediência de Maria é expressão de sua consagração: ela é toda de Deus, sempre pronta a servi-lo. É a virgem pobre e obediente que se abriu totalmente e de maneira exemplar ao Altíssimo. Ela inspira todos aqueles que, por livre disponibilidade, se apresentam diante do Senhor e dos irmãos com o compromisso de viverem a obediência. Sem uma experiência do absoluto não se pode penetrar o que significa ser obediente.

A obediência cristã é um ato de fé, consiste em fazer a vontade de Deus, isto é, fazer o que lhe agrada, confiar no seu amor misericordioso. É aceitação de Jesus como Senhor e Salvador. “Eis que eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,5). “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.

Paulo (Rm 16,25-27) encerra a Carta aos Romanos com uma oração de louvor, falando do “mistério mantido em sigilo”, agora manifestado e “levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé”. Obediência da fé é acolher a graça de Deus, ser generoso e fazer o seu amor frutificar.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.