Carta aos Gálatas

Pe Adilson Fortunato inicia hoje uma série de artigos sobre a Carta aos Gálatas.

Setembro é o mês da Bíblia. Neste ano, a Igreja no Brasil nos recomenda conhecer a Carta aos Gálatas. O tema escolhido é “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28). É bastante atual, retrata os conflitos experimentados no início da Igreja e os caminhos de superação que Deus inspirou nos primeiros cristãos. Hoje vamos conhecer o primeiro capítulo desta Carta, que tem como tema o encontro com Cristo. O início da carta (Gl 1, 1-24) tem três partes: o cabeçalho (1, 1-5); as dificuldades referentes ao ministério de São Paulo (1, 6-10) e, por fim, sua autodefesa como legítimo apóstolo de Cristo (1, 11-24). 

Diferente de outras cartas, esta é escrita para uma região extensa, composta de várias comunidades. Outro detalhe é que não há uma ação de graças no início. Pelo contrário, aparece a indignação do apóstolo diante da atitude dos gálatas, que estavam dando atenção às críticas feitas a ele, por parte de alguns “judaizantes” (cristãos que vieram do judaísmo). Importante notar o fato de que, desde o início da Igreja, havia dificuldades de compreensão e comunicação. Este é um desafio sempre presente. O ministério de Paulo estava sendo questionado. Alguns membros da comunidade resistiam em abrir mão de antigas crenças. Estavam colocando barreiras para aceitar cristãos que vinham do paganismo. 

O apóstolo Paulo se apresenta como um enviado de Deus para anunciar o Evangelho aos gentios, pessoas que não vieram da tradição judaica. Ele afirma que todo aquele que adere a Jesus Cristo é também filho de Deus e que a salvação é oferecida a toda a humanidade, por meio da morte e ressurreição de Jesus (Gl 1, 4-5).

A divisão na comunidade dos gálatas era entre os que queriam exigir dos batizados de origem pagã algumas práticas próprias do judaísmo: a circuncisão e a observância da lei referente ao repouso sabático, à participação nas festas judaicas e ao consumo de determinados alimentos. Para esses judaizantes só podia ser cristão quem antes estivesse disposto a viver como judeu. Paulo discordava disso. Defendia que a vinda de Jesus trouxe uma novidade em relação às expectativas messiânicas da tradição judaica.

Para ele, Jesus não foi enviado até nós para morrer. Ele morreu porque foi fiel ao plano do Pai, a nossa salvação. Foi rejeitado pelas autoridades do seu tempo e morreu devido a interesses de pessoas e de grupos políticos e religiosos. Deus, porém, não se vinga, porque é amor. Ao contrário, o Senhor resgata a humanidade do pecado, libertando-a da escravidão mediante a morte e ressurreição de Jesus. 

Paulo sustenta que seu anúncio não é de origem humana, mas divina (v. 10). Sua mensagem está centrada em Cristo e a fé é um dom gratuito que recebemos de Deus. Nos versículos 11-24 deste primeiro capítulo, defende seu ministério e sua mensagem com base no chamado que recebeu por revelação do próprio Senhor. São Paulo compreende que aquele Jesus humano, morto e ressuscitado é realmente o Messias esperado. Mais do que isto, Jesus é o Filho de Deus. Para nós estas afirmações podem não ser novidades. Mas, para aqueles tempos eram muito impactantes, especialmente para os judeus. 

São Paulo recorda que foi também fariseu, conhecedor dos textos sagrados e fiel à Lei dada por Moisés. Antes de sua conversão na estrada para Damasco, ele também perseguia os discípulos de Jesus. Considerava os cristãos pessoas iludidas por um falso messias. Até porque, para os judeus, maldito (abandonado por Deus) era quem morresse numa cruz (Dt 21, 22-23). Além disso, era um absurdo um ser humano afirmar ser o “Filho de Deus”. 

Mas, em Gl 1, 15-16, o apóstolo Paulo apresenta sua conversão. Afirma que sua experiência de encontro com Cristo ressuscitado em Damasco foi uma revelação direta do próprio Messias, por iniciativa de Deus Pai. Ali ele recebeu uma missão específica: anunciar a Boa-Nova do amor de Deus por meio de seu Filho para todos os povos (v. 15; Is 49, 1; Jr 1, 5). A partir de sua experiência, percebe claramente que Deus deseja oferecer a todos a redenção mediante a fé em Cristo.

Até aqui, aprendemos sobre o início desta Carta aos Gálatas. No próximo texto, entraremos em outro tema muito importante: a vida da Igreja. Até lá!

Ref. Bibliográfica: SAB (Serviço de Animação Bíblica), Mês da Bíblia 2021; Carta aos Gálatas. Paulinas, São Paulo, 2021.

Pe Adilson Fortunato.